sexta-feira, 18 de março de 2022

'Guru espiritual' acusado de crimes sexuais é condenado a 34 anos de prisão no Ceará

 

O "guru espiritual" Pedro Ícaro de Medeiros, conhecido como Ikky, foi condenado a 34 anos de prisão por crimes sexuais contra jovens que frequentavam a comunidade que ele mesmo havia fundado. A sentença foi proferida nesta quarta-feira (16).

De acordo com a decisão, há elementos suficientes para comprovar a conduta de Pedro Ícaro, "pois ele aproveitou-se do fato de ser mentor espiritual das vítimas e as submeteu às práticas sexuais". A defesa de Pedro Ícaro informou que vai recorrer da decisão.

O estudante de filosofia foi condenado pelo crime de estupro de vulnerável e deve permanecer em regime fechado. Neste primeiro momento foi negado a ele recorrer da decisão em liberdade. A defesa informou que vai


Prisão

Pedro Ícaro foi preso preventivamente em setembro de 2020. Ele foi denunciado por uma série de crimes sexuais. Cerca de 50 jovens de várias partes do país denunciaram ele por abusos sexuais, físicos e psicológicos.

O "guru espiritual" criou uma comunidade chamada afago, que funcionava como uma seita espiritual e atraía vários jovens com a promessa de tratamento espiritual, projeto social e cursos terapêuticos.

Em novembro daquele mesmo ano, a Justiça do Ceará acolheu mais uma denúncia contra Pedro Ícaro por crimes sexuais contra duas vítimas adolescentes. A denúncia do caso foi realizada pelo Ministério Público do Ceará (MPCE).

Ele também passou a ser investigado por crimes de violação sexual mediante fraude, crime sexual para controlar o comportamento social ou sexual da vítima, charlatanismo e curandeirismo.

As investigações dos casos de crimes sexuais contra as adolescentes iniciaram com a hashtag #exposedfortal, que denunciava crimes sexuais cometidos por suspeitos no Ceará. Após a hashtag, o Ministério Público lançou campanhas convocando as vítimas de crimes sexuais no estado, quando duas delas denunciaram Pedro Ícaro.

De acordo com o MPCE, a peça criminal foi protocolada pelo Núcleo de Investigação Criminal (NUINC) e pela 167ª Promotoria de Justiça de Fortaleza. O processo encontra-se em segredo de Justiça, portanto, o MPCE não divulgou detalhes da denúncia.

Na época da prisão do guru, o coordenador do NUINC do MPCE, Humberto Ibiapina, informou que os crimes investigados nesse inquérito foram o início da prática criminosa de Ícaro, antes do desenvolvimento dele dentro da Comunidade Afago, da qual ele se dizia mestre. Ibiapina afirmou que o guru se aproximou das vítimas prometendo que elas teriam a 'salvação'.

"Essas duas vítimas são, talvez, as primeiras vítimas do modo de agir do Ícaro. Se aproximava de pessoas carentes, pessoas com problemas pessoais, que sentiam essa carência de uma pessoa que conversasse, interagisse, e, a partir daí, ele fazia essa aproximação", explicou o coordenador.

A prisão do acusado ocorreu no âmbito da Operação Erasta, que cumpriu mandados de prisão preventiva e busca e apreensão contra ele. A polícia cumpriu as ordens em três endereços, em Fortaleza.


Outras vítimas na comunidade

As primeiras denúncias contra Pedro Ícaro foram divulgadas em reportagem do Fantástico, em julho deste ano. Os crimes, ocorridos entre 2018 e 2019, foram apontados por outros jovens que frequentavam a Comunidade Afago.

As denúncias de vítimas da Comunidade Afago foram investigadas em um outro inquérito, instaurado no 26° Distrito Policial. Nesse caso, Ikky, como era chamado na Comunidade, é acusado por violação sexual mediante fraude, crime sexual para controlar o comportamento social ou sexual da vítima, charlatanismo e curandeirismo.

Conforme a jurista Thayná Silveira, que encaminhou as denúncias ao Ministério Público, pelo menos 50 jovens afirmam terem sofrido algum tipo de crime cometido por Pedro Ícaro.

A Justiça do Ceará aceitou essa primeira denúncia do Ministério Público (MPCE) contra ele, o tornando réu em 24 de julho, uma semana após o caso ser revelado. Na época, o juiz recusou o pedido de prisão preventiva de Ícaro.


Crimes

Um jovem que optou por não ter seu nome divulgado contou ao Fantástico que o suspeito o obrigou a ter relações sexuais com ele: "Eu estava chorando, sangrando e eu esperava dele um pouco de humanidade. O que ele fez foi tirar minha blusa e colocar minha blusa na minha boca para que parasse de chorar e ele pudesse continuar".

Já uma mulher, também de identidade preservada, comentou os impactos negativos em sua saúde mental após as vivências no lugar. "Eu entrei na Afago já num momento frágil psicologicamente. E fui ficando cada vez mais frágil e culminou numa crise de depressão muito intensa", lamentou.

Pedro Ícaro também é investigado por estelionato. Ele ofereceria cursos e consultas de terapia tântrica. O guru alegava que havia recebido formação do Prem Hamido, que tem uma clínica de terapia corporal em Fortaleza. Porém, o terapeuta desmentiu Ícaro durante entrevista ao Fantástico.

Conforme Pamela Magalhães, membro da Afago, Ikky ofereceria cursos para a comunidade e, a cada semestre, os valores das aulas aumentavam. "Tanto que quando eu entrei era R$ 50 e quando eu saí um determinado curso já era R$ 1500", afirmou.


Rituais

Os jovens também relataram a prática de rituais violentos dentro da comunidade. Para subir de hierarquia, haviam provas violentas e troca de tapas.

Outro ritual era o ''ovo luminoso''. Em um círculo mais restrito cinco homens e duas mulheres são convocados para participar. Eles devem obedecer as ordens do estudante. ''Para as meninas, ele só pedia o sangue menstrual. Mas pros rapazes, ele dizia que para participar do ovo luminoso, tinha que ter dez sessões de sexo com ele'', detalhou uma das vítimas.

O resultado era um só: ''As pessoas ficavam muito tontas. Choravam. Eu sempre chorava'', revelou uma vítima. A justificativa para a sequência dolorosa chamava a atenção. ''Ele falava que era pro nosso crescimento pessoal e espiritual".


Fonte: g1 CE


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