segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Dia Mundial dos Pobres: cearense se alimenta de doações e do que acha em caminhão de lixo



O agravamento da fome no Brasil revela a realidade de homens e mulheres que não têm moradia, comida e nenhuma renda para sobreviver. Cerca de R$ 160 por mês, em 18 dos 27 estados, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Ibre)

Francisco Hélder da Silva, de 43 anos, vive nesta situação. Ele vigia carros próximo a uma das mais movimentadas avenidas de Fortaleza se alimenta apenas com o que recebe de doação, consegue no caminhão de lixo ou consegue comprar com os trocados que recebe de gorjeta. Para ele, a sombra das árvores e as lajes são locais de moradia.

“Minha situação é difícil porque não tenho casa e moro por aqui mesmo na rua. Um dia durmo por aqui perto do hospital; outro dia durmo lá no Centro da cidade. Outra vez ali na Avenida Dom Luiz, no shopping, na calçada. Não tenho onde ficar e vivo vigiando carros. As sombras das árvores e dos prédios são as minhas moradias. Hoje estou aqui na Avenida Santos Dumont e amanhã só Deus sabe”, diz.

Com objetivo de amenizar o sofrimento de pessoas como Hélder, a comunidade católica Shalom realiza neste domingo, 14 de novembro, data definida como o Dia Mundial dos Pobres, ações solidárias e doação de alimentos para pessoas em situação de pobreza. (Veja programação abaixo.)

Francisco Hélder é natural de Itapipoca, a 130 km de Fortaleza, e viajou para capital para tentar melhores condições de trabalho, mas não obteve oportunidade.

“As coisas pioraram uns cinco anos, aí sozinho tomei a decisão de vir para Fortaleza. Deixei a família por lá mesmo. Eu trabalhava lá de auxiliar de obras e quando cheguei aqui consegui serviço em obras também e serviços gerais, mas uns dois a três anos para cá e com essa doença aí [pandemia] negócio piorou de vez”.

Hélder diz que tudo que tem é de doações e que não faz parte de nenhum programa do Governo Federal.

“Tudo que ganho é de doações. Não tenho Bolsa Família, não recebo nenhum auxílio de ninguém importante [governo ou prefeitura]. Quando tenho sorte, pego algo do caminhão do lixo legal. Biscoito e pão sempre aparecem enrolados em sacos plásticos ou dentro de caixas. Uma vez ou outra pego iogurte, fruta, pedaço de queijo. O vencimento é de dias, mas nunca deu problema pra mim, não”, diz.

Durante entrevista, Hélder vê um caminhão de lixo passando, de onde ele espera tirar alguma comida. "Lá vem ele ali [aponta para o caminhão]. Será que hoje eu consigo algo? Qualquer coisa serve?", afirma apreensivo. O vigia de carros não se esquece de agradecer as doações que recebe. Ele afirma que quando não há nada no caminhão e não consegue o que comer, recebe doação.

"Esses tênis aqui, quem me deu foi um médico que trabalha ali no hospital [Hospital Gênesis]. Gente do bem e quando dá ele passa aqui e me passa um dinheirinho ou um lanche. Outra pessoa que gosto é uma enfermeira que traz uns almoços. Quando o apurado do dia, pois eu olho carros, tá ruim eu ando até a Praça Portugal [distante 3 km] e fico por lá uns dois dias depois volto de novo. Minha rotina é essa e tenho que seguir".


Por g1 CE


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