quarta-feira, 1 de junho de 2022

15 espécies de abelhas foram introduzidas de forma ilegal no Ceará, aponta estudo



Nesta quarta-feira (1º), um estudo publicado na revista ''Insect Conservation and Diversity'', em português ''Conservação de Insetos e Diversidade'', revelou o comércio ilegal de ninhos de abelhas sem ferrão como uma das principais ameaças à conservação de espécies brasileiras. A pesquisa aponta que vendedores operam ilegalmente o comércio em mercados de vendas online. O estudo é do biólogo Antônio F. Carvalho, pesquisador do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA).

No Brasil, o comércio de abelhas sem ferrão é regulamentado pela Resolução CONAMA 496/2020. O estudo aponta que dezenas de vendedores foram encontrados em 85 cidades brasileiras, grande parte na Mata Atlântica, revelando um comércio altamente especializado na exploração, que inclui a retirada de ninhos da natureza, multiplicação e criação e no comércio de colônias de abelhas sem ferrão para longas distâncias.

As espécies foram encontradas nos sites de venda: Mercado Livre Brasil, OLX Brasil, MF Rural, Apis Guia, Agente Rural, Zip Anúncios e no Facebook, além de 3 sites da Dark Web.

Nos 308 anúncios observados no estudo, os principais grupos visados pelos vendedores foram jataí (Tetragonisca angustula), diversas espécies de uruçu (Melipona spp.), de mandaguari (Scaptotrigona spp.) e de abelhas-mirins (Plebeia spp.). Entre as mais cobiçadas, estão a uruçu-capixaba (Melipona capixaba) e a uruçu-nordestina (Melipona scutellaris), abelhas em perigo de extinção.

Oito espécies de outros grupos também foram registradas pelo pesquisador, mas em menor quantidade, sendo: boca-de-sapo (Partamona helleri), abelha sem potencial melífero devido à baixa salubridade do mel, e mombucão (Cephalotrigona capitata), cujo mel não apresenta sabor palatável.

abelhas sem ferrão no Brasil. As localizações dos vendedores (pontos no mapa) são principalmente concentrado na Mata Atlântica Foto: Produzida pelo autor[/caption]

O autor do estudo ressalta que os dados são preocupantes, ''visto em conjunto, esses dados revelam um preocupante mercado de criadores e de colecionadores ávidos pelos mais diferentes grupos, independente do potencial produtivo da espécie em alguns casos'', analisa Carvalho.

As colônias foram registradas com preços variando entre 70 e 5 mil reais, e os insetos comercializados em caixas de madeira de diversos modelos ou em iscas de garrafas pet, sobretudo para localidades fora das áreas onde as espécies ocorrem naturalmente.

No Ceará, 15* espécies de abelhas exóticas foram introduzidas entre as espécies nativas. O pesquisador afirma que essas introduções podem ser ''motores eficazes para extinções locais, uma vez que novos patógenos e parasitas podem colocar populações nativas em declínio''.

As abelhas sem ferrão são importantes polinizadores e muitas espécies são muito utilizadas no Brasil para a produção de mel, como a atividade cultural e econômica de meliponicultura.

"Muitas discussões estão focadas nos efeitos do aquecimento global na biodiversidade, mas temos questões muito urgentes para tratar. Espécies sumirão da natureza devido ao tráfico muito antes que o clima seja capaz de afetá-las negativamente", conclui Carvalho.


Espécies apontadas como introduzidas no Ceará*

  • Aparatrigona impunctata (abelha-de-cupim)
  • Frieseomelita trichocerata (moça branca)
  • Frieseomelitta varia (marmelada amarela)
  • Leurotrigona muelleri (Lambe-Olhos)
  • Melipona fasciculata (Abelha Tiúba)
  • Melipona quadrifasciata quadrifasciata (Mandaçaia)
  • Melipona rufiventris dubia (Uruçu amarela)
  • Melipona seminigra merrillae (Uruçu-boca-de-renda)
  • Nannotrigona testaceicornis (Iraí)
  • Partamona cupira (Cupira)
  • Partamona helleri (Boca-de-sapo)
  • Plebeia droryana (Mirim Droryana)
  • Plebeia remota (Mirim-Guaçu)
  • Scaptotrigona depilis (canudo)
  • Tetragona quadrangula (borá-de-chão)


Por Yanne Vieira

Miséria.com.br

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