segunda-feira, 6 de junho de 2022

Em 3 décadas, Bacia do São Francisco perdeu 50% da superfície de água e 7 milhões de hectares



Correspondendo a 8% do território nacional, a Bacia do São Francisco é a terceira maior do país e tem um papel importante no abastecimento hídrico das regiões nordeste e sudeste, mas entre 1985 e 2020, a região perdeu 50% da superfície de água natural e 7 milhões de hectares de vegetação nativa para a agropecuária. Os dados são da iniciativa Mapbiomas, e foram lançados no último dia 3.

A pesquisa aponta que, mesmo considerando as ações humanas, que trouxeram um aumento artificial de 13% da superfície de água de reservatórios, a redução foi de 4%, sendo as maiores perdas observadas no Alto e no Baixo São Francisco, com 19% e 21% respectivamente.

Quatro grandes reservatórios apresentam uma tendência de queda na superfície de água nos últimos 36 anos, a maior é registrada na hidrelétrica Luiz Gonzaga entre os estados de Pernambuco e Bahia, seguida por Sobradinho, Três Marias e Xingó.

Para Carlos Souza Jr., coordenador do MapBiomas Água, a ação humana pode não ser suficiente para manter o recurso hídrico na região, e enfatizou o cenário de redução de chuvas previsto para os próximos anos. ''A criação de reservatórios aumenta a superfície de água, no entanto temos observado uma tendência de perda de água nos principais reservatórios, além da perda de superfície de água natural significativa na bacia do Rio São Francisco, isso favorece um cenário de crise hídrica'', observou.

Um estudo feito em 2013 pela extinta Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, indicou que poderia haver uma perda de até 65% da vazão da Bacia até 2040, com base no registro de 2005.


Agropecuária

Outros dados do MapBiomas apontam que o uso da terra na bacia se intensificou. Atualmente, a cobertura de vegetação nativa nessa área é de 57%, mas chega a somente 30% no Baixo e 37% no Alto São Francisco.

O estudo aponta ainda, que a região perdeu 7 milhões de hectares de vegetação nativa para agropecuária, restando 36,2 milhões de hectares, desses, somente 17% estão em áreas protegidas. As pastagens ocupam 14,8 milhões de hectares e a agricultura, 3,4 milhões. A formação savânica foi a mais atingida, totalizando em perda de 4,6 milhões de hectares (14%). Além de Cerrado, outros dois biomas compõem a bacia: Mata Atlântica e Caatinga.

As regiões do Baixo e Submédio São Francisco apresentam as maiores taxas de aumento de áreas de pastagem, 50% e 85% respectivamente. A região do Médio São Francisco, registrou aumento de 650% na agricultura, principalmente para a expansão da soja. Já no Alto São Francisco, a silvicultura cresceu 400%.


Desmatamento

O avanço das atividades agrícolas se manifesta em outros indicadores, como por exemplo, o desmatamento. A região do Médio São Francisco registrou quase 2 mil alertas de desmatamento em 2019 e 2020, foram aproximadamente 99 mil hectares derrubados.

A mesma sub-região apresentou o maior crescimento no número de sistemas de irrigação desde 1985, com 1.870%, seguido pelo Alto São Francisco, com 1.586%.

''A bacia do São Francisco está sob pressão, tanto pela agricultura quanto pela geração de energia, que coloca em risco milhares de pessoas que vivem na região'', afirma Washington Rocha, coordenador da equipe Caatinga no MapBiomas.

 


Por Yanne Vieira

Miséria.com.br

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