segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Motorista de app do CE usa cartaz em carro para explicar a passageiros que tem tiques: 'Não ficam preocupados'



O cearense Antonio Luiz Gomes da Silva, 44 anos, tem movimentos involuntários repetitivos, mas, determinado a trabalhar como motorista de aplicativo em Fortaleza, resolveu colocar uma placa nas costas do banco dianteiro do carro explicando sobre a síndrome da qual é portador.

Diagnosticado com um distúrbio neuropsiquiátrico conhecido como Síndrome de Tourette, Antonio Luiz decidiu confeccionar o cartaz depois da reclamação de uma passageira.

“As primeiras viagens não foram muito boas. Por conta dos meus tiques percebi que algumas pessoas ficavam com algum receio. Com medo de eu não conseguir fazer a viagem, sei lá e passar mal. Aí teve um dia que uma pessoa reclamou da viagem. Relatou o problema através do programa do aplicativo. Aí a partir de então fiquei pensando como eu poderia explicar que tudo estava normal e que as viagens são tranquilas”, afirmou.

No cartaz, ele se apresenta: é casado, pai de um garoto, trabalha desde os 13 anos e começou a dirigir em 1997, tendo experiência com caminhões, carros de passeio e motocicletas. Além disso, diz que faz todos os exames de renovação da carteira de habilitação.

"É sempre um prazer poder fazer parte do cotidiano de vocês. Porém, tenho uma síndrome conhecida por síndrome de tourett [sic], pouco conhecida por muitas pessoas. Trata-se de uma síndrome neurológica que faz com que eu tenha moviemntos involuntários como tiques nos olhos, boca, ombros e às vezes sons. Estou te informando para ficar tranquilo pois não se trata de nada grave, não passarei mal nem estou fazendo porque quero", diz o cartaz.

A ideia surgiu após uma conversa com a mulher em casa depois de um dia de trabalho. “Cheguei em casa e expliquei a situação para minha mulher. Conversamos e, aí, apareceu a ideia de colocar uma plaquinha na parte de trás do banco para que quando o cliente ou a cliente entrasse, visse e ficasse mais tranquilo. E deu certo”, contou, sorrindo.


Após a colocação da placa, o motorista de aplicativo percebeu que o clima nas viagens melhorou bastante.

“Foi uma ideia simples e que melhorou muito a minha vida, sabe? Até a minha pessoa ficou mais tranquila, pois com o cartaz eu sei que as pessoas sabem dos meus movimentos repetitivos e não ficam preocupados. Muitos conversam sobre os seus problemas e dou conselhos. Tudo passa rápido e o trabalho se torna satisfatório”.


Drama da Covid

Durante as ondas da pandemia, Antonio Luiz as viagens foram tensas e sua saúde consequentemente piorou, segundo ele. O motorista contou que os movimentos involuntários ficaram mais frequentes, e a visita a hospitais o assustava. Devido à ansiedade, ele também passou a mexer também os ombros e o corpo.

“Foram várias idas aos hospitais. Ia deixar pessoas doentes e pegar famílias ou pacientes nas unidades. Eu sempre tive cuidado, mas ficava muito ansioso e com medo de pegar ou passar algo para a minha família. E financeiramente para mim também foi ruim. Período complicado”, disse,

Antonio Luiz contraiu Covid-19 em 2020 e teve apenas sintomas leves. O motorista ressalta, com alívio e alegria, que ele e a mulher já tomaram as três doses.

“Eu peguei a doença em 2020 e graças a Deus tive apenas sintomas leves como moleza no corpo e dor de cabeça. Já tomei as três doses, minha mulher também e meu filho também foi vacinado. As coisas estão melhorando e espero que fique tudo bem para todos”.


Infância

Antonio Luiz diz que os primeiros sinais da Síndrome de Tourette começaram quando ele tinha 7 anos. Segundo ele, recebia as brincadeiras que os colegas faziam a respeitos dos tiques com bom humor e tranquilidade.

“Foi tudo normal e na tranquilidade. Às vezes, eu não achava graça, mas para outras pessoas era sim muito engraçado. Ainda hoje tem os apelidos, mas levo tudo na paz. Segredo é não ligar e aos poucos os colegas vão se acostumando”, afirmou.


Por g1 CE


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